Parabólica deixa Galvão Bueno mal na fita
São José do Rio Preto, 2 de setembro de 2001
(Por Júlio Cezar Garcia)
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Galvão Bueno manda Luxemburgo 'caçar bode' em um trecho da fita (Foto Arquivo) |
Uma gravação acidental feita pelo comerciante Sérgio Silva Roncolato, de Tanabi, por meio de antena parabólica, no domingo passado, revelou que Galvão Bueno, o maior nome da narração esportiva nacional, não diz no ar o que de fato pensa e fala nos bastidores. Na chamada que fez, minutos antes de iniciar a transmissão do jogo Corinthians e Bahia, no estádio da Fonte Nova, em Salvador, o locutor afirmou: “Sempre, Corinthians e Bahia farão um bom jogo.” Fora do ar, no entanto, Galvão, o comentarista e ex-jogador do Corinthians Valter Casagrande Júnior e o repórter Mauro Naves desancaram a equipe do Parque São Jorge.
Mauro Naves insistiu: “Agora ele voltou ao nome original”.
E Galvão emendou: “Voltou à idade original também?” - referindo-se à denúncia feita no ano passado, quando Luxemburgo era treinador da Seleção Brasileira, de que ele havia adulterado a própria certidão de nascimento, no início da carreira como jogador de futebol, para constar alguns anos menos que a idade real.
Mauro Naves e Casagrande riram da pergunta de Galvão.
Casagrande aproveitou a deixa: “Esse que é o meu medo... Volta ao original, vem confusão pela frente...”
Mauro Naves lembrou outra atividade do treinador, tempos atrás: “Vai voltar a vender carro de novo...”
A reação de Galvão Bueno ficou exacerbada assim que o repórter Mauro Naves começou a passar-lhe números e nomes dos jogadores corintianos que ficariam à disposição do treinador, na reserva, ou no banco, como se diz na gíria do futebol. “Vamos lá, os bancários”, pediu Galvão.
Mauro Naves foi ditando:“Doze, Rubinho..., treze, Ângelo..., quatorze, Ânderson... O banco é horroroso!... Quinze, Pingo...”
Galvão interrompe:“Que time é esse, gente?”
Mauro Naves prossegue:“É, pois é... Dezesseis, Edson Canhão...”
O narrador se espanta: “Quê isso? Dezesseis, Edson! Que Edson Canhão, nada!”
O repórter-de-campo se justifica:“Canhão a gente fala porque ele chuta forte.”
Mauro Naves ri e o narrador questiona: “Cara, eu fui embora e aconteceu tudo isso? Passei uma semana fora!...”
Galvão se mostra incrédulo: “Impossível. Isso não é Corinthians, não. O Casão tá rindo aqui.”
Casagrande entra na conversa e ridiculariza os jogadores reservas, insinuando que eles não teriam qualidade para mudar um resultado adverso: “Já pensou?... Um a zero pro Bahia, você (o treinador) olha pro banco...Você fala, o que eu vou fazer?”
Mauro Naves diz que foi Corinthians e Sport, em Recife.
“Quanto foi”, quer saber Galvão.
“O pico foi 27?” O ponto responde e Galvão se surpreende:“Tudo isso? Aquele Paraná e Corinthians tinha dado isso também, né?”
Aborrecido, o narrador prevê que o Ibope vai cair: “É, mas com o Corinthians mal assim... Corinthians demais... vai começar a diminuir isso. Não sei não, viu?... Acontece que não pode ser Corinthians todo dia, né? Domingo que vem já é Corinthians de novo, não é? Eu, pelo menos com a Fórmula 1, fico um (domingo) sim um não”.
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Eurico Miranda: Galvão tramou com Casagrande (Foto ABR) |
Na chamada que fez durante o Planeta Xuxa, Galvão Bueno, após exaltar a animação da torcida e garantir que Corinthians e Bahia sempre fazem bons jogos, soltou a frase: “Quem gostar tanto de futebol assim e perceber que está atrapalhando, pega o chapéu e vai embora.” E citou a confusão que Eurico Miranda, presidente do Vasco e o mais influente cartola do futebol brasileiro, aprontou no domingo em relação ao horário de entrada do Vasco em campo. “São essas pessoas que eu digo: vai pra casa”. Terminada a intervenção, Galvão Bueno ficou em silêncio alguns segundos e, assim que o Planeta Xuxa retornou ao ar, o narrador voltou a conversar nos bastidores, tramando com Casagrande a crítica a Eurico Miranda (e, por tabela, ao presidente da CBF, Ricardo Teixeira). “Vamos começar com essa de cara, Casão? Quem gosta de futebol e estiver atrapalhando, vai embora. Ãh?, não é uma boa? Você gosta de futebol? Você acha que pode ajudar o futebol? Estão achando que você está atrapalhando? Vai para casa!...” O ex-árbitro de futebol José Roberto Right, comentarista de arbitragem da Globo, entrou na conversa: “Hoje na minha coluna falei do exemplo daquela russa que devolveu a medalha de ouro. Ela não concordou com o primeiro lugar dela... Tem muito dirigente que sabe que não agrada e não quer largar o osso. Então, já podia ter dado adeus.” Galvão emendou: “Acho que nós vamos falar disso. Temos de falar disso hoje. Lembra que te falei? (Fui) o primeiro cara que falou isso... intervenção na CBF é a solução. Lembra que falei isso? Mas, primeiro, é inconstitucional. Segundo, você não pode punir o povo. Você não pode fazer uma coisa dessa. Aí, a Fifa tem de cumprir o regulamento e tira o Brasil da Copa.” O comentarista Valter Casagrande Júnior concorda: “Lógico.” E Galvão prossegue: “Agora, que está na hora de zerar a pedra e começar de novo, está mesmo. É hora de fazer uma faxina”. “Lógico”, repete Casagrande. Galvão insiste com Casão: “Você vai comigo nessa?” “Lógico, é isso aí, pô” - responde Casagrande. |
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Sérgio Silva Roncolato captou a transmissão off-line da Embratel |
Seria lógico imaginar que, como palmeirense, Sérgio tivesse se regalado com a zombaria da equipe da Globo contra o treinador e o banco de reservas do Corinthians, mas isso não aconteceu: “Achei antiético, especialmente em relação ao Casagrande, pois o Corínthians foi o time que lhe rendeu fama e fortuna”. Quanto à ironia de Galvão Bueno em relação ao treinador Luxemburgo, Roncolato disse ter ficado surpreso: “Quando Luxemburgo era treinador da Seleção Brasileira, era presença garantida na cabine da Globo”, lembrou o comerciante. Ele afirma que se o treinador não comparecia, a Globo improvisava um estúdio na casa dele. “Era para aumentar o ibope da emissora. Era uma exclusividade do Galvão, que se vangloriava disso. Hoje, pelo jeito, o treinador virou Luxobrega para o narrador”, ironizou Roncolato.
Da mesma forma, o repórter Mauro Naves foi criticado pelo comerciante, já que Naves convive com os atletas no dia-a-dia do Parque São Jorge e, a seu ver, não deveria pichar a equipe daquela forma. Na sexta-feira e no sábado, o Diário tentou contato com todos os envolvidos. Os telefones de Casagrande e Luxemburgo não atendiam. O de Mauro Naves e de Galvão Bueno não foram fornecidos pela Globo.
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Tela da televisão, mostrando o canal da Embratel |
Galvão - Vamos lá.
Naves - Vamos lá. (E conclui a escalação do Bahia.)
Galvão - Vamos lá. Corinthians.
Naves - Corinthians. Um, Doni...
Galvão - Peguei seu recado só hoje, viu Mauro?
Naves - Pois é, o celular não funcionou ontem. Não funcionou o do Casagrande... Hoje passou a funcionar.
Galvão - Peguei só hoje o seu recado.
Naves - Eu não sabia qual, né? Você tem duzentos (celulares).
Galvão - Não, só tenho este. O do Rio acabou. Eu perdi no Uruguai, não lembra?
Naves - Ah, tá...
Galvão - Eu perdi no Uruguai e resolvi aposentar. Chega. Quem quiser me ligar, agora, liga interurbano para Londrina, pronto. Vou ficar andando com dois celulares que nem louco na mão?
Naves - De qualquer jeito seria interurbano mesmo, porque você nunca pára nem num nem noutro.
Galvão - E aí? Dormiu ou saiu?
Naves - Saí, mas foi jogada rápida.
Galvão - (Ri) Jogada rápida...
Naves - Eu perdi minha agenda. O Kock me ligou há poucos dias... eu não tenho o celular dele...
Galvão - Ele está aqui. Você vai falar com ele aqui. Você vai embora hoje?
Naves - Vou. Nove horas, eu e o Casão.
Galvão - Vocês são malucos. Nós vamos lá pro...
Naves - Você veio com a Desiré aí? (Desiré é a esposa de Galvão Bueno.)
Galvão - Vim, vim... Vim de Ibiza, direto (Galvão havia transmitido o Grande Prêmio da Hungria no domingo anterior e foi descansar na ilha de Ibiza, na costa da Espanha.)
Naves - (Rindo) Você estava mal, né?
Galvão - Tava mal, sim.. Tô neguinho, rapaz.
Naves - E eu que só levo a Patrícia pro Tatuapé, para passear.
Galvão - Hoje vamos lá pro Aerocloube, ali, jantar um camarão ali... Depois, vamos pro Café Cancún... Tomar as tequilas... tomar as tequilas...
Naves - Ótimo, ótimo, ótimo... Ontem tava entupido ali.
Galvão - A gente virou a noite viajando.
Naves - Você chegou do Rio?
Galvão - Fiz Ibiza-Madri, Madri-Rio, Rio-Salvador. O Roberto Kock foi me buscar no aeroporto, não me deixou ir nem pro hotel. Fomos direto pra Vilas. Cheguei no hotel, cara, 10 horas da noite... A Desiré não sabia mais nem onde estava, tanto sono, dormindo no carro. Fomos dormir.
Naves - Nós chegamos muito tarde aqui ontem.
Galvão - Vamos lá.
Naves - Vamos lá. (Começa a ditar nomes e números dos jogadores do Corinthians.) Doni, um. Cinco, Marcelo. Três, Chaid, no meio. Quatro Marquinhos. Dois, Rogério. Oito, Otacílio. Nove, Rodrigo Pontes. Onze, Ricardinho. Seis, meia-dúzia, Kleber, com k. Sete, Paulo Nunes. Dez, Gil.
Galvão - Vamos lá.
Naves - Vanderlei Luxemburgo. Com ‘V’ e ‘i’ no final. Agora ele mudou, não é mais ‘W’ e ‘y’. É ‘V’ e ‘i’.
Galvão - Ah!... manda ele (Luxemburgo) caçar um bode.
Naves - Agora ele voltou ao original.
Galvão - E voltou à idade original, também?
Naves - Voltou, voltou.
Casagrande - Esse que é o meu medo. Volta ao original, vem confusão pela frente.
Naves - Vai voltar a vender carro de novo... (todos riem)
Galvão - Vamos lá, os bancários. (Refere-se aos jogadores que ficam no banco de reservas).
Naves - Doze, Rubinho..., treze, Ângelo..., quatorze, Ânderson... O banco é horroroso!... Quinze, Pingo...
Galvão - Que time é esse, gente?
Naves - É, pois é... Dezesseis, Edson Canhão...
Galvão - Quê isso? Dezesseis, Edson! Que Edson Canhão, nada!
Naves - Canhão a gente fala porque ele chuta forte.
Galvão - Que time é esse? Isso é Corinthians?
Naves (fazendo trocadilho com a palavra banco) - É o bando do Corinthians. E tem mais, ainda... Dezessete, Andrezinho...
Galvão - Isso não é o Corinthians, não.
Naves - (ri)
Galvão - Cara, eu fui embora e aconteceu tudo isso? Passei uma semana fora!...
Naves - E para fechar com chave-de-ouro, dezoito, Neto.
Galvão - Impossível. Isso não é Corinthians, não. O Casão tá rindo aqui.
Casagrande - Já pensou?... Um a zero pro Bahia..., você olha pro banco assim..., você fala... O que eu vou fazer?
(Casagrande estava sendo profético. O jogo seria um a zero para o Bahia.)
(Galvão anota os nomes dos árbitros. Depois conversa pelo ponto eletrônico com a retaguarda técnica, solicitando os números do ibope.)
Galvão - Ô Cidão, quanto deu domingo passado o jogo?
(Resposta fica inaudível porque vem pelo ponto, no ouvido de Galvão.)
Galvão - Que que foi domingo passado?
Naves - Corinthians e Sport, não foi? Corinthians e Sport, em Recife.
Galvão - Quanto foi? O pico foi 27? Tudo isso? Aquele Paraná e Corinthians tinha dado isso também, né?
Galvão - É, mas com o Corinthians mal assim... Corinthians demais...
vai começar a diminuir isso. Não sei não, viu?... Acontece que não pode ser Corinthians todo dia, né? Domingo que vem já é Corinthians de novo, não é? Eu, pelo menos com a Fórmula 1, fico um (domingo) sim um não.
(Galvão tinha razão. Hoje tem mais Corínthians na telinha da Globo. O Timão pega o América (MG) em Belo Horizonte, a partir das 16 horas. Com ou sem parabólica?).
OBRIGADA A PUBLICAR 'ERRATA' EDITORIAL
Galvão – Ah! Manda ele caçar bode.
Naves – Ele agora voltou ao original.
Galvão – E voltou à idade original também? (referindo-se ao caso da falsificação de documento envolvendo Luxemburgo).
O jornal "Diário da Região", de São José do Rio Preto (SP), divulgou anteontem um diálogo entre o locutor da TV Globo Galvão Bueno, o comentarista Casagrande e o repórter Mauro Naves no qual o primeiro reclama do excesso de jogos do Corinthians na programação da emissora.
A gravação foi feita pelo comerciante Sérgio da Silva Roncolato, 38, de Tanabi (SP).
Segundo ele disse à Folha, o diálogo foi captado por sua antena parabólica no dia 26 de agosto, um domingo, momentos antes da transmissão ao vivo de Bahia x Corinthians, pelo Brasileiro.
A Folha ouviu por telefone, anteontem à noite, trechos da gravação feita por Roncolato.
Desde o início do Brasileiro, em 1º de agosto último, a TV Globo só transmitiu para São Paulo, aos domingos, jogos do Corinthians.
Em determinado trecho do diálogo, o locutor pergunta a seu staff os números da audiência do domingo anterior, quando o Corinthians havia perdido para o Sport.
O locutor é informado que a audiência foi boa, mas emenda:
"É, mas com o Corinthians mal assim... Corinthians demais... Vai começar a diminuir isso. Não sei não, viu? Acontece que não pode ser Corinthians todo dia, né... Domingo que vem é Corinthians de novo, não é?", disse o locutor.
Em outro trecho, reclama do time ao ser avisado sobre os reservas do Corinthians: "Que é isso? (...) Que time é esse? Isso é Corinthians? (...) Isso não é o Corinthians não".
Na fita, aparecem referências a Eurico Miranda, presidente do Vasco, Wanderley Luxemburgo, técnico do Corinthians, e à crise institucional da CBF.
Antes de a transmissão entrar no ar em rede nacional, o locutor conversa com os colegas sobre a possibilidade de intervenção na CBF: "Acho que nós vamos falar disso. Temos de falar disso hoje. Lembra que te falei? [Fui" o primeiro cara que falou isso... intervenção na CBF é a solução. Lembra que falei isso? Mas, primeiro, é inconstitucional. Segundo, você não pode punir o povo. Você não pode fazer uma coisa dessa. Aí, a Fifa tem de cumprir o regulamento e tira o Brasil da Copa. (...) Agora, que está na hora de zerar a pedra e começar de novo, está mesmo. É hora de fazer uma faxina".
Roncolato disse que captou o diálogo em um canal utilizado para programas educativos.
A assessoria da Globo no Rio disse que a emissora tem por princípio dar mais espaço em sua grade para jogos dos times de maior torcida, como o Corinthians. A emissora não quis comentar outros pontos do diálogo.
Assessores de Galvão Bueno disseram, por telefone, que o locutor não iria fazer nenhum pronunciamento sobre o assunto.
de todas as capitais e nas TVs Band, SBT e RedeTV!
“Domingo passado, o futebol deu 29 pontos para a Globo contra 22 do Gugu. Fora do futebol, o Gugu emplacou 26 pontos, contra 20 do Faustão”, confirma Vanucci. Cada ponto no Ibope equivale a 80 mil televisores ligados. Para efeito de audiência, o cálculo é de quatro pessoas por aparelho, revela o especialista. “Audiência é dinheiro, é faturamento.
“A Globo diz que o Faustão é líder em quase todo o Brasil e só perde em São Paulo. Mas São Paulo é o principal mercado publicitário. Perder aqui é preocupante. A Globo pode estar bem no Rio de Janeiro, mas não pode vacilar em São Paulo”, acrescenta. “Aí se compreende a insistência em transmitir jogos da equipe de maior torcida no Estado”.
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Ricupero:'O que é bom a gente fatura, o ruim, esconde' |
Leia abaixo trechos da conversa do ministro com o repórter, publicadas pelo Jornal do Brasil, do Rio em 3 de setembro de 94.
Carlos Monforte - Ministro, nós vamos aproveitar sua presença enquanto se soluciona o problema de áudio.
Ricupero - Claro, Monforte, isto aí é bom pra mim, bom pro Real e bom para o Fernando.
Monforte - E como vai a campanha, ministro?
Ricupero - A campanha está ótima, muita gente que não votaria no Fernando por causa do PFL, agora vai votar por minha causa. (...)
Monforte - Dizem que o Lula está subindo.
Ricupero - Se ele está subindo, então precisamos de um espaço no Fantástico, porque não adianta ficar falando do Real só nos programas de telejornalismo.
Monforte - E depois das eleições, o que acontece?
Ricupero - Depois de 15 de novembro, vamos ter de reprimir as greves que vão ocorrer no Brasil. Vamos soltar a polícia sobre os grevistas.
Ricupero: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde”.